No momento em que a pandemia do coronavírus atinge seu ápice, o Brasil atravessa uma grave crise humanitária, com falta de insumos básicos nas unidades de saúde das regiões mais necessitadas, como Amazonas e Pará. Nos últimos dias, a população viveu a angústia da ausência do Estado, que levou ao colapso do sistema de saúde de Manaus, com cidadãos brasileiros morrendo por falta de oxigênio.
No anseio de salvar vidas, o reabastecimento de oxigênio contou com o esforço de entidades, pessoas públicas e do país vizinho, Venezuela. A solidariedade foi, mais uma vez, essencial. Mas é preciso apontar que a morte de pessoas pela ausência de condições de atendimento evidencia a tragédia pela qual passamos, com efeitos agravados pela ausência de políticas públicas e falta de condução séria por parte do governo federal.
Em meio ao pior período de contágio e de ocupação de leitos, medidas de abertura irresponsável e discursos negacionistas têm sido constantes não só por parte do presidente Jair Bolsonaro, mas de governadores, prefeitos e parlamentares que o apoiam. Diante do caos e do horror, de mais de mil mortes diárias no Brasil pela Covid-19, e enquanto o mundo se esforça para enfrentar a pandemia de maneira séria e comprometida, a conduta da maior liderança política do país alterna-se entre o escárnio e o crime.
Diariamente a pandemia, que já custou mais de 2 milhões de vidas no mundo, 10% delas em território brasileiro, é minimizada e desacreditada. Em uma postura criminosa, já sabendo que faltaria oxigênio nas unidades de saúde, e poucos dias antes do colapso, o ministro da Saúde, especialista em logística, visitou Manaus. Ignorou a iminente falta do insumo, mas divulgou o “tratamento precoce” com uso de substâncias sem nenhuma eficácia comprovada.
Ao mesmo tempo em que investe todas as energias para fazer propaganda sobre medicamentos sem eficácia para Covid-19 e espalhar fake news para atacar desafetos políticos, o governo federal minimiza a prevenção mais eficiente: a vacina. No entanto, a cobertura vacinal esbarra em mais um contratempo, com a postura belicista nas relações internacionais apresentando seus resultados, com a Índia atrasando a importação de vacinas, e a China impondo restrições para a exportação de insumos necessários para a produção do imunizante.
“Apesar” (expressão utilizada pelo presidente para comentar a aprovação da Anvisa para uso emergencial de duas vacinas) do descaso e da postura anticiência, temos o trabalho fundamental dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde e da área científica, que dedicam-se à luta diária contra o vírus e na resistência ao negacionismo.
É importante também destacar, mais uma vez, a contribuição vital dos serviços públicos brasileiros, já que mesmo sob intensa pressão, graças aos funcionários públicos do Butantan, Fiocruz e Anvisa, temos a possibilidade de produção das vacinas contra Covid-19 em solo brasileiro.
Neste contexto não podemos ignorar que, mesmo diante do caos sanitário, social e econômico, as forças neoliberais e do mercado seguem pressionando o Congresso Nacional pela aprovação de medidas de desmonte e sucateamento dos serviços públicos, com o argumento de que só as reformas vão salvar o país. Porém, ao longo dos dez meses de pandemia foi possível perceber que somente um Estado forte e com investimentos no setor público é capaz de atender as necessidades mais urgentes da população.
O Sindjus, como uma entidade que representa servidores cujo trabalho permite que a Justiça chegue até a população, não pode se omitir diante da tragédia vivida pelo nosso povo. Não podemos ignorar os mortos por falta de oxigênio, as mais de 200 mil vidas perdidas e o caos promovido, em grande parte, pelo descaso e pela falta de gestão. O Brasil não pode mais ficar à mercê da irresponsabilidade e da incompetência do atual governo.
Para superar esta crise, é fundamental enfrentar os desafios com seriedade e bom senso, respeito à ciência e valorização do serviço público. Essa é nossa defesa e, acreditamos, deveria ser de todas as entidades e pessoas que têm na sua história o compromisso com a vida e os valores humanitários. Basta: o povo brasileiro merece mais!