Com quase um milhão de casos registrados e mais de 24 mil mortes pelo coronavírus no estado, o governador tucano Eduardo Leite prepara-se para ampliar a flexibilização das restrições em relação a serviços públicos e privados com a edição de novo decreto em que altera a classificação de risco de todas as regiões, pretende extinguir a bandeira preta e criar um “novo sistema” de distanciamento controlado.
Além de explicitar que o sistema de risco por bandeiras aqui aplicado não tem apoio na ciência, este movimento é claramente uma resposta do governo à atuação recente do Poder Judiciário, que de maneira sensata buscou frear a reabertura de escolas e o comércio num momento ainda crítico da pandemia (quando a taxa de ocupação de leitos de UTI no estado supera os 80%). O ato do governo estadual vai na contramão do bom senso e aprofundará ainda mais a crise sanitária que atravessamos. Nesta queda de braço sem fundamento, quem perde é sempre o povo.
A medida, que afeta não apenas o retorno das escolas, mas de inúmeras atividades no estado, inclusive no Judiciário, é irresponsável e deve acarretar em maior dispersão do vírus, pelo inevitável aumento da circulação de pessoas e pela baixa cobertura vacinal. No RS, isso é ainda mais grave com a proximidade do inverno, período de aumento considerável dos casos de doenças respiratórias (e consequentes internações hospitalares).
É lamentável que num momento tão delicado e que exige medidas sérias e comprometidas com o interesse público e a defesa da vida, o governador pareça mais preocupado em afrontar o Poder Judiciário e satisfazer interesses de potenciais doadores para sua campanha eleitoral.
Queremos e exigimos que o governo pare de atender aos apelos do capital e ouça os apelos de quem sofre, em especial as milhares de famílias em situação de vulnerabilidade e com menos condições de se proteger. Não somos contra a retomada de atividades presenciais, desde que ela se dê em condições adequadas para garantir a segurança e a saúde de todos e todas. Infelizmente, estamos longe deste cenário e o poder público perde tempo e dispersa esforços ao não ter como prioridade a ampliação de recursos para prover auxílio a quem precisa e vacina para todo o povo gaúcho.
Nosso compromisso como agentes públicos é zelar pela atenção à população e na condição de dirigentes sindicais, de denunciar e lutar para que o bom senso prevaleça acima de medidas arbitrárias e precipitadas. Não aceitaremos que nossas vidas sejam negociadas. Seguiremos no enfrentamento e na luta por ações efetivas para sairmos desta situação.