A realidade da aposentadoria no serviço público em nada se assemelha ao ideal de descanso e tranquilidade que se espera após décadas de dedicação profissional. No Poder Judiciário, em que os trabalhadores se encaminham para oito anos de salário congelado, a situação dos inativos fica ainda mais prejudicada.
A servidora Márcia Ferro, que se aposentou em 2015, sintetiza o momento enfrentado por ela e demais aposentados como de preocupação com o futuro. “Desde que me aposentei, é a primeira reposição desde aquela época e foi apenas 6%, que não cobre nada das nossas perdas, é um percentual ínfimo que não faz frente à inflação em todos esses anos e realmente o salário cada vez mais fica precarizado, não comporta as despesas”.
A servidora reforça que com a dificuldade para conseguir atendimento na rede conveniada do Ipe Saúde, cada vez mais precarizada, as despesas com tratamento de saúde comprometem parte significativa do orçamento familiar.
Entre os cargos de salário mais baixo, a situação é ainda mais grave. Além do congelamento, todos os descontos aplicados em folha reduzem o valor final a níveis indignos, muitas vezes inferiorea ao salário mínimo, obrigando muitos aposentados a recorrer a empréstimos consignados com juros escorchantes. A medida, considerada extrema, muitas vezes é a única saída. “Para aposentados no cargo de serviços gerais a situação é crítica, tem colegas que não tem dinheiro em determinado momento do mês sequer para andar de ônibus e têm que andar a pé”, relata Márcia.
Descansar após uma vida inteira de trabalho também não é uma opção para muitos, que precisam encontrar formas de complementar a renda. “Temos vários colegas fazendo algum tipo de trabalho manual para vender e até cuidando de idosos, imagina”, cita a servidora.
A direção do Sindjus, que recebe diariamente relatos preocupantes sobre a situação de servidores aposentados, tem se empenhado pela revisão da matriz salarial do Judiciário estadual, a fim de amenizar os impactos sobre a vida de quem não está mais na ativa. “Nossos colegas aposentados contribuiram para fazer do Judiciário o que ele é hoje e não estão recebendo o devido reconhecimento e valorização. É urgente que o Tribunal de atenção para a situação desses trabalhadores”, pontua o coordenador-geral do sindicato, Osvaldir Rodrigues. A campanha para que o TJRS negocie a revisão está em andamento, com a realização de assembleias regionais, lives e ações de mobilização virtual. Uma Assembleia Geral deve ser realizada no dia 14 de outubro em Porto Alegre, para debater a continuidade da luta.
Desigualdade: quando ela aumenta, a justiça diminui