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Filiado a Fenajud

Um grande momento de integração das lutas das mulheres que atuam no Judiciário do país ocorreu em Florianópolis, que sediou o 2º Encontro de Mulheres da Fenajud e o 5º Encontro de Mulheres do Judiciário de Santa Catarina. Com o tema “Resistir, Lutar e Sonhar: Mulheres se organizam para viver”, o evento realizado em conjunto pelo Sinjusc e Fenajud reuniu representantes de diversos estados nos dias 29 e 30 na capital catarinense. O Sindjus/RS  foi representado por uma delegação de 10 servidoras e integrantes do Coletivo Não Me Calo.

Pelas que vieram antes e pelas que virão depois de nós

A palestra de abertura na noite de sexta-feira (29) foi proferida por Anita Leocadia Prestes, figura de importância histórica para o Brasil; filha dos revolucionários Luiz Carlos Prestes, brasileiro, e a alemã Olga Benario Prestes, nasceu numa prisão de mulheres na Alemanha nazista, onde a mãe foi executada. Com uma carreira dedicada à preservação da memória de luta de sua família, Anita preside o Instituto Luiz Carlos Prestes, é doutora em história social pela Universidade Federal Fluminense e professora do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ.

Em sua fala, com o título “A luta nos movimenta para viver: memórias de resistência”, contou sobre a caminhada combativa das mulheres de sua família. “É importante conhecer a história das mulheres que combateram no Brasil”, ressaltou Anita, que compartilhou recordações que remontam à atuação de sua bisavó, Ermelinda, na defesa de Luiz Carlos Prestes durante o período em que esteve preso e sem comunicação com a família, escrevendo cartas às autoridades brasileiras da época.

Mas foi sua avó, Leocádia, figura emblemática no apoio ao pai revolucionário comunista, sua grande referência no enfrentamento às injustiças. Conhecida como a “mãe coragem”, Leocádia liderou uma campanha internacional e promoveu articulações com grupos e representantes de diversos países em prol de Prestes e também para resgatar a neta, nascida na prisão de Barnimstrasse, em Berlim. Foi essa luta que impediu que Anita tivesse sua identidade apagada pela Gestapo e fosse encaminhada para adoção na Alemanha. De volta à família, Anita foi criada principalmente pela tia, Lygia. As irmãs de Prestes, contou, partilhavam da veia revolucionária e foram militantes comunistas muito combativas, enfrentando dificuldades e perseguições.

A historiadora apontou diversos fatos relatados em suas obras, fruto de décadas de pesquisas históricas para preservar a trajetória de seu pai e de sua família. Seus livros registram e mantém a memória de lutas e da resistência que inspiram revolucionários do mundo todo até hoje. Após sua apresentação, a pesquisadora ainda respondeu questionamentos das participantes do encontro, e concluiu salientando que espaços como o Encontro são fundamentais para “organizar a luta das mulheres”. Encerrando o dia de atividades, as integrantes do Coletivo das mulheres do judiciário catarinense (Valente) apresentaram  a última edição de sua revista e, após o jantar, foi realizado um sarau com apresentação da cantora e poeta Tayá Versa.

No segundo dia de evento, as lutas das mulheres em diferentes espaços foram abordadas nas mesas temáticas, com espaço para debates e trocas entre as participantes. Na parte da manhã, a mesa “Resistimos e lutamos: somos trabalhadoras diversas” trouxe diferentes perspectivas sobre os desafios das mulheres, a partir de olhares de especialistas que abordaram como questões de gênero, classe, cor, deficiências e orientação sexual atravessam a vida e a luta das mulheres no curso da história e nos dias atuais, sobretudo no mundo do trabalho.

Além de todas as adversidades cotidianas, somam-se ao machismo outras formas de preconceito, como o racismo, a homofobia e o capacitismo, o que potencializa o sofrimento e o desgaste das mulheres. As palestrantes*  mostraram como isso se dá em suas áreas de atuação e ressaltaram como é possível fazer o enfrentamento para resistir e combater esses mecanismos de opressão.

Abraçar a diversidade: a pluralidade nos fortalece

À tarde, o painel “Lutamos e sonhamos: experiências e vivências de mulheres que se organizam” dividiu-se em dois eixos. O primeiro, “Mulheres em diferentes espaços de atuação”, trouxe a organização das mulheres dentro dos movimentos sociais. As experiências das lutas nos diferentes movimentos destacam o poder da coletividade no enfrentamento às desigualdades e na ampliação da presença e do protagonismo das mulheres em todos os espaços. Nas falas potentes das lideranças, o recado foi dado: a partir do compartilhamento de vivências para abraçar a diversidade das pautas das mulheres do campo, da cidade, das florestas e das águas, as mulheres se fortalecem para multiplicar as conquistas e avançar rumo a uma sociedade mais fraterna, justa e igualitária.

A segunda mesa abordou o tema a partir da ótica das mulheres que já atuam no movimento sindical. Dirigentes dos sindicatos do Poder Judiciário de diversos estados explanaram sobre os desafios e as necessárias condições para que as mulheres atuem na política sindical de maneira qualificada. Fica evidente que não basta apenas garantir paridade de número; é fundamental romper com a lógica do patriarcado na organização sindical, que ainda dificulta a presença ativa das mulheres nesses espaços.

A plenária final foi construída após um momento de organização em grupos temáticos que debateram os eixos trazidos no encontro. A aprovação do manifesto lido pela presidenta do Sinjusc, Carolina Costa, com diversas reivindicações, marcou o encerramento das mesas, mas não do encontro, que ainda contou com intervenção artística de Tayá Versa e uma grande festa para celebrar a potência da luta das mulheres de ontem, de hoje e de amanhã. 

Durante todo o evento, as participantes foram instigadas a não apenas assistir, mas também a dar sua contribuição, tanto pela fala quanto pela construção de um painel, em forma de colcha de retalhos, construído com pedaços de tecido que cada uma pôde personalizar com mensagens em fios e cores. Um símbolo da riqueza que cada trajetória traz ao coletivo; a pluralidade nos une e nos fortalece.

Foto capa: Alana Pastorini
Fotos evento: Bianca Taranti

 

*Mesa “Resistimos e lutamos: somos trabalhadoras diversas”

Suzana Veiga Doutora em História pela UFPE, com estágio sanduíche na Universidade de Évora. Desenvolve, desde 2009, pesquisa em História das mulheres. Especialista em História moderna e participação feminina na história do Brasil colonial, também desenvolve pesquisa e cursos de teoria feminista, mulheres, raça e classe a partir do feminismo decolonial. Criou e media o clube de debate Teoria Feminista ontem e hoje, desde 2021.
Manoela Veras Internacionalista (da Unisul – Universidade do Sul de Santa Catarina) e mestranda em História Global (UFSC), onde integra o projeto Mandonas, sobre mulheres na política e  o laboratório de estudos de gênero e história (LEGH-UFSC). Desde 2020, realiza pesquisas sobre as seguintes temáticas: história das mulheres; mulheres na ciência; mulheres na política; decolonialidade; História do sufrágio, e relações de poder. Atualmente também é palestrante da Escola do Legislativo da Alesc e oferece palestras para outras instituições.
Anahí Guedes de Mello Antropóloga, doutora em antropologia social pela UFSC. É ativista surda lésbica membra do Mudiá – coletiva de visibilidade lésbica de florianópolis e também da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL). Pesquisadora da Anis – Instituto de bioética e do núcleo de estudos sobre deficiência da UFSC. Membra do Comitê deficiência e acessibilidade da associação brasileira de antropologia (aba) e do GT Estudios Críticos en Discapacidad do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso).
Painel “Lutamos e Sonhamos: Experiências e vivências de mulheres que se organizam”
Mesa  “Mulheres em diferentes espaços de atuação”
Ingrid Sateré Mawé Natural do Amazonas, nascida na capital Manaus, vive em Santa Catarina há 16 anos, mulher indígena semente da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade – ANMIGA, mãe de 3, professora de ciências biológicas e matemática, liderança política na Tenda das Candidatas capacitando mulheres indígenas, negras, quilombolas, PCDs e LBTQ+ para campanhas eleitorais, feminista comunitária na Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (Renfa), ativista em defesa dos direitos humanos, comunicadora popular. Primeira mulher indígena a coordenar o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (2015 – 2018), primeira mulher indígena a concorrer ao cargo de governadora do estado de Santa Catarina (2018), atuou como assessora política na Câmara Municipal voltada aos movimentos sociais na cidade de Florianópolis, atuou como assessora especial no Congresso Nacional na bancada do cocar. Palestrante e escritora com ênfase nos temas cultura do estupro x cultura da paz e povos indígenas.
Sully Santos 35 anos, negra, antirracista, anticapitalista, candoblecista, mãe em carreira solo de três filhxs, estudante de ciências políticas na Uninassau (uma faculdade privada de Recife), auxiliar de serviços gerais no Sindijud-PE, moradora da periferia do Recife. Militante e atuante no movimento de mulheres/feminista, desde os 15 anos, tendo sua primeira experiência com o feminismo no SOS Corpo, ONG feminista da cidade, desde então construindo e contribuindo com a pauta e lutas de diversas bandeiras que defende. integra o coletivo fala alto e o grupo de  mães antiproibicionistas de seu bairro. sujeito social e político, numa crescente construção de uma consciência crítica e política. experenciando essa revolução feminista, materna e racial, a tempos pregada e propagada nos territórios de luta.
Helena Quilombola (Quilombo Vidal Martins) Presidenta da ARQVIMA – Associação dos Remanescentes do Quilombo de Vidal Martins – Comunidade composta por 31 famílias descendentes de vidal martins e certificada pela Fundação Cultural Palmares em 2013.
Adriane Canan Militante do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC). Jornalista e mestra em Literatura Brasileira pela UFSC, atua como comunicadora popular, documentarista (roteirista, diretora e produtora). Sua militância feminista tem raiz no feminismo camponês popular construído no MMC. Nascida no oeste de SC e filha de camponeses, reside em Florianópolis e tem atuação constante no diálogo campo-cidade em espaços como o 8M e outras instâncias de lutas.
Mesa Atuação Sindical
Andreia  Ferreira (Sindijus-PR)
Mariane Figueira (Sindjus – PE)
Liliane Araújo (Sinjusc)
Maria das Dores (Sinsjusto)