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Nas últimas semanas, o Sindjus/RS trouxe um panorama sobre os principais elementos do processo de destruição do Estado brasileiro na série de reportagens “Brasil Por um Fio”. Na conclusão desta série, buscamos apresentar alguns pontos para reflexão, para entender quais interesses que estão sendo defendidos ao mesmo tempo em que a maior parte da população brasileira é prejudicada. 

O primeiro ponto é sobre a repercussão pública do desmonte, mediada e propagada pelos veículos da mídia hegemônica. Neste sentido, é necessário compreender a relevância do papel da grande imprensa na construção de uma narrativa favorável às iniciativas de enfraquecimento do Estado e da desestruturação do conjunto de garantias constitucionais da classe trabalhadora. 

Grandes conglomerados de comunicação sustentam através da linha editorial a priorização da economia na condução política do país, sempre no sentido da defesa do “equilíbrio fiscal” para justificar cortes, reformas que levam ao desmonte e entrega de funções públicas para  a iniciativa privada. Esta tendência fica nítida na maneira como os principais grupos abordam essas iniciativas, especialmente nas editorias de economia, como necessárias para redução de gastos e combater o que chamam de “inchaço da máquina pública”. 

“A reforma da Previdência teve uma aderência natural. Todos os veículos de imprensa praticamente aderiram à reforma”, disse. “Nós não temos o que reclamar em relação a isso, todos os veículos praticamente assumiram uma posição favorável.”  *Fábio Faria, ministro das Comunicações do governo Bolsonaro em Webinar do Canal JOTA.

 

Para o professor da UFBA Uallace Moreira em entrevista ao Jornal Brasil Atual), a defesa ideológica de reformas (como a administrativa) por parte da imprensa avança também para a distorção da imagem de servidores e servidoras públicas, constantemente retratados como privilegiados e com vantagens excessivas. O objetivo desta narrativa é construir um entendimento hegemônico de que reduzir o papel do Estado auxilia a “combater privilégios”, e a linha adotada acaba por criminalizar os trabalhadores do setor público. 

Mas afinal, por quê?

De modo geral, o alto empresariado busca sempre mediar junto ao governo soluções para reduzir custos e ampliar lucros. Não é coincidência que muitos representantes deste segmento tenham financiado movimentos para derrubar o governo de Dilma Roussef, apoiem abertamente candidaturas comprometidas com a pauta neoliberal e condenem a visão de Estado como indutor de desenvolvimento.

Donos de algumas das maiores empresas do país em 2018 manifestaram apoio a Jair Bolsonaro e são totalmente alinhados à política econômica de Paulo Guedes. Defendem privatizações para disputar mercado e são contrários a aumentos de impostos ou ampliações de investimentos públicos. Promoveram campanhas em favor de grandes reformas e unem forças para o lobby junto ao Congresso Nacional. 

A pressão do setor pode ser explícita na forma de ameaças como a perda de empregos, como sustentado por presidentes de empresas quando da defesa da reforma da Previdência. Foi também o alto empresariado que pressionou por uma reforma administrativa ainda mais profunda, sob o pretexto de liberar recursos para impulsionar a economia.  No RS, setores da indústria e do agronegócio representados por entidades como Fiergs e Farsul, veem no atual governo uma oportunidade de ter seus interesses priorizados em detrimento de políticas para trabalhadores da cidade e da agricultura familiar.

Apesar de representarem a minoria na sociedade, grandes detentores do poder econômico do país, têm maioria no Congresso Nacional, o que facilita o atendimento a suas demandas e a continuidade do programa neoliberal de destruição do Estado.

Para dirigentes do Sindjus, essa movimentação política em direção oposta ao do interesse público para favorecer o capital só pode ser barrada com a ocupação das massas nas estruturas de poder e decisão. “Somente poderemos alterar esta lógica quando a classe trabalhadora de maneira organizada se unir na luta política de enfrentamento aos ataques e também na hora de lançar suas lideranças para ocupar as cadeiras da Câmara e do Senado”, defende o coordenador-geral do sindicato, Fabiano Zalazar.

“Enquanto os poderosos dão as cartas, a imprensa nos joga uns contra os outros e propaga a versão dos de cima, a boiada passa e a política favorece sempre os mesmos, os que a financiam. Nós temos que compreender a classe trabalhadora como uma grande unidade com potencial para fazer o verdadeiro enfrentamento e construir um outro caminho para o que queremos como país, com Estado forte e capaz de atender à população”, sustenta.

 

Texto: Juliana Campani