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Na tarde desta sexta-feira (28), segundo dia de atividades do VII ConsejuRS, os participantes do Congresso foram provocados a refletir sobre o papel das lutas no campo, na floresta e na cidade para garantir o Bem Viver. A mediação da mesa ficou a cargo da diretora de formação Maiz Junqueira e Giovanni Ferraz, representante do Coletivo Diversa. 

O militante ecossocialista Thiago Ávila iniciou sua partiipação saudando a iniciativa do Sindjus com o Congresso, “uma aliança com setores da classe trabalhadora que estão na ponta, no campo e na floresta. O sindicato está construindo o marco de uma luta muito especial”. Para Thiago, é importante que a temática do Bem Viver seja abordada no âmbito da classe trabalhadora. 

Em seguida, propôs uma reflexão sobre a realidade no campo imposta pela lógica do sistema capitalista, que se apoia na tríade exploração, opressão  em todas as suas formas (gênero, raça, sexualidade etc) e destruição da natureza. E situa a crise enfrentada pelo país no cenário mundial: “para o mundo global, o Brasil é ainda um grande fazendão, uma mina gigante, um cassino a céu aberto para especulação financeira”. Superado o momento histórico da ascenção imperialista, “a nova mentira colonial passou a ser o desenvolvimento, para perpetuar a lógica de dominação”, pontuou o comunicador. No “grande fazendão” nacional, impera o modelo do agronegócio que sustenta essa mentira.

A despeito da ampla propaganda da mídia hegemônica que o exalta como positivo e basilar para o desenvolvimento do país, o agronegócio opera justamente o oposto: é ecologicamente destrutivo, socialmente injusto e economicamente deficitário, fruto de uma aliança das elites para manter o processo de exploração, opressões e destruição, definiu Thiago. O ecossocialista apontou dados sobre os efeitos destrutivos do agronegócio, gerados pelas queimadas, derrubadas, utilização de agrotóxicos, pecuária extensiva e monocultura; todos os aspectos envolvidos nessa dinâmica provocam grave impacto social e ambiental. Em contrapartida, são os trabalhadores da agricultura familiar, organizados em pequenas propriedades, os verdadeiros responsáveis pela maior parte da produção de alimentos para a população.

Não há outro futuro possível, portanto, sem a eliminação do modelo do agronegócio, defende Thiago. É necessário superá-lo e promover uma nova lógica, com transformação do modo de produção, redistribuição de terras e promoção da dignidade para quem vive e trabalha no campo. 

A dinâmica do capitalismo é perversa e deletéria, afetando quem já sofre mais; são os mais pobres os primeiros a sentir os efeitos dos problemas gerados por ele. Por isso, os princípios do Bem Viver estão intrinsecamente ligados a todas as lutas libertárias. “Essa tem que ser uma pauta da classe trabalhadora”, defende Thiago, para enfrentar a desigualdade e a justiça social.

Filha da Cacica Iracema Gãh Ré, Kapri mora na retomada kaingang no Morro Santana e luta com sua comunidade pela demarcação do território. “É bem complicado falar em demarcação. É triste, antes o Brasil todo era nosso”, declarou. Em seguida, reforçou que este movimento tem que ser abraçado pela sociedade para se fortalecer. “As pessoas precisam se mobilizar; a Mãe Terra está morrendo aos poucos. Demarcando, a gente demarca mais espaço para a mãe Natureza respirar”, ressaltou. Durante quase toda sua fala, Kapri manteve-se de pé, acompanhada pelo público.

“É importante falar; o vento leva nossas falas adiante. No corpo a corpo, a gente sempre vai perder”, declarou, denunciando os ataques armados contra comunidades indígenas na disputa pela terra. Kapri referiu que o genocídio indígena reduziu a populaçãao de povos originários para menos de R$ 1 milhão em todo o país. “A gente tá sendo exterminado aos poucos. Muitas pessoas não sabem o que é a luta indígena, quase sempre criminalizado e criticado. Temos que mudar esses conceitos através da nossa fala, da nossa escuta e no cuidado com a mãe Natureza”. 

Ao final de sua fala, em um momento de grande emoção,, Kapri pediu para que as pessoas presentes se abraçassem e reforçou: ”a gente precisa se unir cada vez mais”. 

Paulo Roberto da Silva Lima, Paulo Galo ou Galo de Luta abriu a sua manifestação contando um pouco da sua história e os desafios até o momento, em que se tornou uma referência para os trabalhadores da cidade. Líder dos Entregadores Antifascistas, Paulo Galo sonhava em ser rapper. “Ninguém queria saber de mim, só o racista, só o policial – tomava uns três enquadro por dia. Não me transformei num rapper, me transformei num entregador, comprador de fralda, pagador de aluguel”.  Ao mencionar a precariedade do trabalho de entregador, fez uma descrição dura: “É difícil carregar comida nas costas sem ter na barriga”, contou. 

Galo falou sobre a compreensão que o capitalismo está presente em toda a opressão e de oportunidades para quem é da periferia. Para ele, isso tem um reflexo muito forte na falta de perspectiva de vida e de um olhar para o futuro. Neste cenário de grandes e microviolências. Paulo Galo contou como a luta para mudar a realidade de exploração, através da greve dos entregadores e o episódio do incêndio da estátua de Borba Gato foram pontos de mudança: : “você pode ser um zumbi do capitalismo ou um zumbi dos Palmares”.

Chamando as pessoas presentes para refletirem, o líder dos entregadores antifascistas apontou um exemplo de como ocorre a apropriação do capital: “Como que a Suíça é o país do chocolate se lá não tem um pé de cacau?”, questionou, citando que é necessário “uma contra ideia, uma ideia decolonial”.

Por fim, ele encerrou o relato para uma plateia emocionada, chamando uma reflexão essencial dentro do conceito do Bem Viver: “Quando a gente perdeu a capacidade de dizer ‘nós’? Quem ensinou a dizer ‘eu’? Quem trocou o ‘nós’ pelo ‘eu’?”. Provocado pela plateia, Galo encerrou sua participação na roda de conversa declamando o rap “Epidemia”, de Dugueto Shabazz.

No encerramento foram exibidos os vídeos de apresentação do Coletivo Diversa e Coletivo Não Me Calo, detalhando as pautas de luta e convidando as delegadas e delegados para participarem dos coletivos.

 

IIV CONSEJU - RS | DIA 2