A exemplo do capitão que décadas atrás planejava uma quartelada e saía da história do Exército pela porta dos fundos, o agora presidente da República joga – e blefa – ao tentar dar uma demonstração de força que não tem. O desfile de veículos militares na Esplanada realizado na semana passada, pretendido como um recado aos parlamentares ou ao STF, soou mais como uma medida desesperada de alguém que se vê cada vez mais isolado e sem apoio real. Alguém que não se leva a sério, às voltas com teorias da conspiração, defesa do retrocesso (como o voto impresso) e que desdenha do drama da população e do papel que desempenha na catástrofe que vivemos. O país não merece tamanho vexame.
Enquanto Bolsonaro expõe o Brasil ao ridículo com tentativas de ameaça aos Poderes da República, o povo padece. Somos um dos países com pior desempenho na condução da pandemia. Passamos de meio milhão de mortos pelo coronavírus. Ainda não atingimos nem 25% da população imunizada, mesmo com o eficiente programa de imunizações que foi referência para o mundo durante muito tempo. Em meio à crise sanitária, o desemprego, a inflação e a omissão do governo levam o povo à miséria.
Alheio a tudo isso, o presidente da República vive em clima de eterna campanha eleitoral, questiona a segurança do sistema eletrônico de votação, esbraveja contra seus adversários e, de maneira reiterada e insana, tenta insuflar sua horda de apoiadores com incitações à violência e à rebelião contra as instituições. Pretende com essa farsa abafar os escândalos que envolvem seu governo e sua incompetência para comandar o país? Desviar o foco para que não se debata o que realmente interessa, como as leis e reformas em tramitação que precarizam o acesso da população às políticas públicas com a destruição do serviço público e o enfraquecimento do Estado com as privatizações? Não sabemos. Mas é fato, não podemos admitir que essas manobras avancem e que o poder seja objeto de brincadeiras autoritárias.
Nossa ainda jovem democracia foi conquistada à custa de muita luta. Custou-nos também muitas vidas, as dos que ousaram enfrentar o autoritarismo e a repressão. Ninguém em sã consciência sente falta da ditadura militar e da imposição pelo medo. Se hoje podemos nos expressar e lutar por nossos direitos como trabalhadores e trabalhadoras, foi graças à coragem de homens e mulheres que enfrentaram a crueldade dos anos de chumbo. Por isso, não deixar a luta hoje é nosso dever.
Vamos intensificar a defesa do Estado Democrático de Direito, da vida e dar um basta à irresponsabilidade e aos desmandos. Vamos às ruas mostrar a nossa força, que não se deterá ante à covardia dos que debocham da dor alheia e desafiam as instituições democráticas. Se Bolsonaro não for derrotado pelo impeachment, será pelas urnas, pela vontade do povo que já não tolera mais ameaças e estupidez. O Brasil é do povo, é de todos nós. Lutemos por ele!