A quadra da escola Imperadores do Samba recebeu nesta quarta-feira (30) a atividade de encerramento do Novembro Antirracista Unificado. A entrega do troféu Oxé de Xangô – Prêmio Sirmar Antunes (In Memoriam) homenageou griots e griottes do RS e marcou o fechamento do mês de lutas e de reflexão sobre o combate ao racismo estrutural.
Organizada pelo GT de Cultura do Novembro Antirracista Unificado, por proposição do Sindjus/RS e Unegro, a cerimônia foi conduzida pela diretora do Sindjors, Jeanice Ramos, e teve acompanhamento artístico do grupo Samba das Pretas.
O artista responsável pela confecção do troféu, Pedro Salles, participou da solenidade. Esculpidos um a um em madeira de eucalipto, os machados de lâmina dupla (oxé) simbolizam Xangô, o orixá da Justiça. O nome do prêmio é uma homenagem ao ator gaúcho Sirmar Antunes, grande ativista da valorização da cultura negra, que faleceu em agosto deste ano.
Representando o Coletivo Pela Igualdade Racial do Sindjus (CIRS), o sociólogo Luiz Mendes, destacou a construção do mês de lutas de maneira unificada, saudou as organizações que tornaram possível essa iniciativa e o reconhecimento aos griots e griottes. “Hoje, peço licença especialmente, aos meus mais velhos e minhas mais velhas, que estão representando nossa luta”, citou.
A presidenta da Unegro, Elis Regina Gomes de Vargas, reforçou a importância de homenagear as personalidades que com sua atuação fazem parte da história de luta e resistência do povo negro. “A gente entende o significado da luta por um outro mundo possível. Resistir sempre foi o legado do nosso povo. Hoje nós encerramos o novembro com chave de ouro, porque nada é mais importante do que saudar nossa ancestralidade. Que pai Xangô nos abençoe hoje e sempre, nos dando justiça, pois é por isso que lutamos, por justiça para o nosso povo”.
Responsável pela ornamentação do espaço para acolher a solenidade, a artista e militante da cultura afro Ana de Tandera, explicou o significado da mesa de frutas, que além de uma oferta aos orixás para agradecer, simbolizam a nutrição física (do corpo) e espiritual (da alma) pelo contato com o que vem da terra.
Após a cerimônia, foi realizado um brinde coletivo com os homenageados e seus convidados.
Veja quem são as 12 pessoas agraciadas com o Troféu e algumas declarações feitas durante a premiação:
Cultura | Guaraci Feijó
“Falar de negritude é minha sina. (..) Tenho esta força de defender e falar sempre das coisas da nossa comunidade”, pontuou o artista visual que dedicou grande parte de sua vida ao carnaval gaúcho, desde o bloco do Floresta Aurora, clube negro onde começou sua atuação.
Comunicação | Vera Daisy Barcellos
“É um momento ímpar estar neste salão, nesta quadra, a quadra do Imperadores do Samba, a minha escola. Eu lembro e faço uma dedicação muito especial a Carlos Barcello, o Roxo. É um nome que já partiu há muito tempo, mas que faz parte dessa história. Obrigada muito especial, gratidão a esse time que organizou esse evento, meu sincero e emocionado agradecimento”, afirmou a jornalista, que foi primeira negra a presidir o Sindicato dos Jornalistas do RS (Sindjors) e mulher pioneira na cobertura jornalística esportiva.
Direito | Antônio Carlos Côrtes
Antônio Carlos Côrtes não pode comparecer por motivos pessoais e foi representado pela amiga de longa data, a carnavalesca Onira Pereira.
Educação | Vera Triumpho
“Temos que lembrar sempre, que temos que estar sempre com a cabeça erguida. Somos um povo muito bonito que Deus colocou neste país. (…) Trabalhei em todo nosso país, com outras lideranças do movimento negro, exigindo cotas para negros em todas as universidades federais de todo nosso país. Foi uma coisa muito bonita, vejo quantas lideranças negras surgiram dessa integração do movimento negro em todo o Brasil. Nós temos que lutar por um currículo que respeite a história do povo negro em todo o Brasil, a sociedade brasileira tem que respeitar a nossa história e nos deixar trabalharmos a nossa história com dignidade de norte a sul, de leste a oeste deste país”.
Liderança Comunitária | Antônio Mattos
“Saúdo essa gente lutadora, que recentemente ajudou a definir os rumos do país a partir de 1º de janeiro de 2023. É nesse sentido que a gente se transforma em militante e de vez em quando é lembrado. Esse prêmio é em memória do Sirmar; entre as muitas coisas que faço e fiz, sou inscrito legalmente na prefeitura como produtor cultural, e foi assim que conheci o Sirmar. (Citou trabalhos do ator) Nós devemos lembrar sempre. Esse troféu é em memória permanente do Sirmar.”
Política | Paulo Paim (representado por sua suplente, e futura vereadora de POA Reginete Bispo)
“Agradeço em nome dele essa importante homenagem e reconhecimento. Representa um clamor do nosso povo por justiça, que seja um movimento de articulação e reconectado com a nossa ancestralidade. O senador Paim tem usado mandato para garantir justiça ao povo brasileiro e negro. Que a gente possa celebrar um novo tempo de justiça, igualdade e liberdade.”
Literatura | Fátima Farias
“Muito orgulhosa de estar nesse espaço que pode ser considerado um quilombo, pois tem muita energia, e podemos considerar essa homenagem um ato de resistência(…) Uso a palavra como ferramenta de libertação e mudança de dentro pra fora. O livro eu carrego sempre na minha mão. Conheci Sirmar no sopapo poético, e fiquei muito feliz de saber que ele está sendo homenageado neste grande ato de resistência.”
Música | Nanci Araújo
“Eu tô aqui hoje, tenho certeza, que é por ter gravado muitos compositores gaúchos (…) todos esses, quando vou me apresentar, eu carrego junto. (…) Enquanto a gente estiver fazendo um samba, um batuque, uma capoeira, estamos fazendo a resistência muito grande, muito firme e forte”.
Religiosidade | Iyalorixá Carmem Holanda
“Com muita alegria e muita honra recebo esse símbolo da justiça, símbolo de verdade(…) Ofereço esse oxé para todo aquele que luta por verdade e por justiça, ao movimento negro (…) Esse troféu é para aqueles que vêm antes e aqueles que vêm depois de mim. Peço a Xangô, senhor da Justiça, senhor da verdade, aquele que destrói o mentiroso, aquele que destrói com o fogo do seu Oxé, condenando os mentirosos e os injustos, pedindo que o alá de Xangô cubra todos e todas nós que lutamos por esta verdade, por dias melhores, por direitos e igualdade.”
Saúde | Alberto Terres
“Quero agradecer a todas as entidades por proporcionar esse aquilombamento de resistência. Numa conjuntura que o fascismo combinou de nos matar, nós temos que combinar que não vamos morrer(…) Tenho lutado de forma intransigente pelo sus, universal, e isso é defender o povo negro. É um dos fatores que norteia minha vida. Precisamos resistir para defender as políticas na área da saúde, educação e assistência social. Temos que resistir, se o intuito é de nos matar não conseguirão. Não basta não ser racista, tem que ser antirracista.”
Esporte | José Ventura
“Esse troféu está indo para a Restinga, para as crianças, a gente tem um trabalho voltado para o atletismo de periferia, a maioria são negros e a gente mostra a importância do esporte para a ascensão do povo negro e como forma de auxiliar as crianças.”
Sindical | Maria Geneci Silveira
Sirmar me ajudou muito na CUT, ele me deu a mão e apoio, e fazia atividades para me ajudar. A emoção de segurar esse troféu, ele representa demais para mim. Depois do retrocesso nos últimos anos, felizmente o amor venceu o ódio e estamos aqui para reconstruir, e sabemos como fazer(…) Espero que antes de morrer ainda veja muitos negros nas direções federais de sindicatos, éramos 2%, agora somos 1%, isso tem que mudar.(…) Aguardo que vocês estejam juntos nas lutas que teremos que enfrentar, foi a luta negra que fez mudar muita coisa.”
Confira matéria em vídeo produzida pela TVT: https://fb.watch/h9R0CKbPXC/