O evento será nesta quinta-feira (30), às 18h30, na quadra da escola de samba Bambas da Orgia
No dia 30 de novembro, quinta-feira, ocorre o encerramento do Novembro Antirracista Unificado deste ano com a entrega do Troféu Oxé de Xangô. A premiação, que está em sua segunda edição, homenageia em 12 categorias, homens e mulheres (griôs e griotes) com mais de 60 anos, que reconhecidamente desenvolveram suas trajetórias em prol da comunidade negra. O evento será na quadra da escola de samba Bambas da Orgia (Rua Voluntários da Pátria, 1387 – Floresta), às 18h30.
A homenagem marca o fechamento do mês de novembro, no qual foram realizadas diversas atividades de luta e reflexão para o combate ao racismo. A atividade é uma iniciativa do Sindjus/Coletivo pela Igualdade Racial (CIRS), SindBancários, Sindjors, Cpers Sindicato, Movimento Negro Unificado (MNU) e União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro), com apoio do GT de Cultura. A premiação também terá a apresentação artística do Centro de Cultura Negra Brazil Estrangeiro.
De origem africana, a palavra griô (em francês, griot) faz alusão àquele que, em sua comunidade, é reconhecido por transmitir ensinamentos de geração em geração, como um guardião da memória e da tradição de um povo.
Pelo segundo ano consecutivo, o artista plástico Pedro Salles é o responsável pela confecção do troféu que será entregue aos homenageados. Esculpido em madeira, o machado de duas lâminas iguais (Oxé) é o símbolo de Xangô, o orixá da Justiça.
As personalidades agraciadas com o troféu são:
Artes visuais: Irene Santos
É fotógrafa, dedicada à produção de imagens e especialmente à pesquisa da história e da cultura afro-brasileira. Publicou, em 2006, o livro Negro em Preto e Branco. Em 2010, Colonos e Quilombolas. Também dirigiu o webdocumentário Outros Carnavais – Memória do Carnaval de Rua de Porto Alegre, em 2014. Sua exposição mais recente foi a participação em Travessias Contemporâneas ao Sul do Atlântico, na 11ª Bienal do Mercosul.
Atuação Política: Felipe Teixeira
Construiu parte da sua trajetória na militância do movimento estudantil (desde 1978) e do movimento sindical (nos anos 80). Participou como representante da Polícia Civil, junto com servidores negros e negras da Brigada Militar, IGP, Susepe e PGE, do GT de Igualdade Civilizatória na Segurança Pública para tratar das questões do povo negro e a segurança, implementando, entre outras ações, um trabalho de levar as religiões de matriz africana para atendimento aos homens e mulheres em situação de prisão e implantar um processo de formação com os servidores penitenciários. Coordenou o Movimento Negro Unificado no RS, foi conselheiro do Codene e do Conselho do Povo de Terreiro. É um dos fundadores da Setorial Estadual da Segurança Pública do PT/RS, e já integrou a diretoria da Ugeirm-Sindicato.
Comunicação: Renato Dornelles
Nascido e criado em bairros da periferia de Porto Alegre, formado em Jornalismo pela PUCRS em 1986. Foi repórter, editor, colunista, apresentador, comentarista e âncora em veículos da RBS. Trabalhou com assuntos ligados à segurança pública, comunitarismo e cultura popular. Conquistou mais de quarenta prêmios de Jornalismo. Foi repórter de samba e Carnaval por mais de uma década. É autor dos livros-reportagem Falange Gaúcha; Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas; e do romance A Cor da Esperança.
Direito: Onir de Araújo
Natural de Niterói (RJ), mas residente em Porto Alegre desde 1994. É advogado e geólogo. Assessora vários sindicatos e atua junto junto à Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas – Seção RS (OLPN), com destaque para o Quilombo da Família Silva, primeiro Quilombo Urbano titulado do país, no ano de 2009. Dá suporte aos onze Territórios Quilombolas em Contexto Urbano de Porto Alegre. Trabalhou também na defesa dos servidores cotistas do município de Porto Alegre e apoiou a implementação das Políticas Afirmativas da UFRGS, em 2007.
Educação: Iara Deodoro
A matriarca Mestra Iara Deodoro é uma referência no sul do Brasil quando se fala em dança afro-gaúcha. É fundadora do Grupo Afro-Sul de Música e Dança, criado em 1974. É a mulher à frente do Afro-Sul Odomode, renomado espaço que acolhe e difunde a arte dos tambores, do maracatu e das manifestações populares. Ministra aulas teóricas e práticas de forma remota, partindo do conhecimento obtido há mais de 50 anos, instrumentalizando, assim, professores negros e não negros sobre saberes e traços culturais do povo afro-gaúcho.
Esportes: Kim (Alcy Martha de Freitas)
Tem 90 anos. Iniciou sua carreira esportiva em 1953, como jogador de futebol no Clube Esportivo Aimoré, de São Leopoldo, atuando também de 1958 a 1962 no Sport Club Internacional. Em 1964, sofreu uma lesão na cabeça, que teve como sequela a perda temporária da visão, afetando assim alguns reflexos. A partir disso, tornou-se treinador de futebol no Rio Grande, time conhecido como “Vovô”, por ser o mais antigo do Brasil, o acolheu. Kim passou por vários clubes: Paysandu, Clube Esportivo Bento Gonçalves, entre outros. Encerrou a carreira como professor de futebol para crianças e adolescentes do sexo feminino e masculino, dentro das comunidades e no Colégio Anchieta. Ele diz “esporte não tem como primazia a competição, mas a educação e prevenção contra a marginalização”.
Liderança Comunitária: Maria da Graça da Silva Amaral
Com 73 anos, é da quinta geração da família que hoje em dia configura a comunidade remanescente quilombola de Gregório Amaral (Quilombo Macanudos), de Rio Grande, sendo uma das fundadoras da Associação que representa a comunidade. Atuou na Pastoral do Negro, organização da Diocese de Rio Grande. Também idealizou concursos de Beleza Negra, seminários municipais e estaduais de combate ao racismo, organizou grupos de Dança Afro, realizou caminhadas e manifestações públicas em defesa da comunidade negra e valorização da cultura negra. Servidora pública federal, trabalhou por 35 anos na Universidade do Rio Grande (FURG).
Literatura: Lilian Rocha
Natural de Porto Alegre é farmacêutica, analista clínica e também autora dos livros A vida pulsa – poesias e reflexões; Menina de tranças e coorganizadora da Antologia Sopapo Poético – Pretessência. Integrante da Comissão sobre a Verdade da Escravidão do RS, da OAB/RS. Atua como conselheira da Associação Negra de Cultura e da Academia de Letras do Brasil. Integrante do Mulherio das Letras, do Coletivo Poemas à Flor da Pele, do Movimento Nacional Elos Literários e do Coletivo Arte Negra. Participou de inúmeras antologias poéticas brasileiras e portuguesas. Seus poemas são publicados em vários sites, blogs, revistas e redes sociais e este ano recebeu da Câmara Municipal de Porto Alegre o Prêmio Mulher Cidadã.
Música: Cláudio Barulho (Cláudio Custódio dos Santos)
Há 65 anos atua como músico profissional. Começou sua carreira em 1960, como baterista amador e percussionista na extinta Orquestra do Mestre Waldemiro. Foi tarol mestre da Banda Militar do Exército por dez anos. Em 1965 iniciou sua carreira como baterista e percussionista profissional. Descobriu o talento para cantar, firmando-se como cantor de música popular brasileira, mas visitou vários estilos musicais, como bossa-nova, samba-canção, samba de raiz e samba-enredo. A primeira casa noturna que trabalhou foi o Batelão. Tornou-se oficineiro de canto e percussão em comunidades carentes de Porto Alegre e também no interior. Em 2005, foi convidado pela Fran Discos a participar do CD de Sambistas do Sul, onde gravou quatro faixas. Em 2006, lançou o CD Sou do Samba. Em 2011, lança o CD Cantar Samba Ê, com composições de Nego Izolino. Em 2019, comemorou 60 anos de carreira no Teatro Bruno Kiefer, com o show Música é Meu Dom, espetáculo que realizou novamente no mesmo teatro, em 2022, quando comemorou 80 anos. Sua vida profissional já lhe rendeu 43 troféus e várias medalhas.
Religiosidade: Mãe Ieda de Ogum
Dirigente do Ilê Nação Oyó, iniciou sua trajetória religiosa na década de 1960 com a sua Yalorixá, Mãe Isaura de Oya. Em 1964, com a autorização e bênção de sua Mãe de Santo, Mãe Ieda inaugura sua casa de religião, juntamente com seu esposo, Pai Miguel de Oxum. Mãe Ieda homenageia seus orixás no ritual africano de batuque no mês de abril, com a Festa do Pai Ogum. Mãe Ieda, como outros chefes espirituais, carrega a bandeira da religião Afro-brasileira por todo o Rio Grande do Sul e exterior, atravessando fronteiras, levando ao Uruguai e Argentina, onde possui vários filhos de santo prontos – Yalorixá e Babalorixás. Também participa de movimentos sociais e está envolvida em diversos projetos. Há muitos anos, dedica-se a prestar auxílio às pessoas em situação de vulnerabilidade.
Saúde: Maria Geneci Macedo da Silveira
Foi a primeira negra a ingressar como servidora no Grupo Hospitalar Conceição (GHC), como técnica em enfermagem, em 1975. Faz parte da Comissão Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do GHC (Ceppir/GHC). A Comissão desenvolveu a ampliação de cotas para afrodescendentes de 10% para 20% nos processos públicos do Hospital e conseguiu incluir as religiões afro-umbandistas no Espaço Inter-religioso do GHC.
Sindical: Rejane de Oliveira
Natural de Porto Alegre, professora, especializada em alfabetização. Atua no movimento sindical desde a década de 1990. Foi integrante da direção do Sindicato dos Professores da Rede Privada (Sinpro-RS) e presidenta do CPERS Sindicato por duas gestões, sendo a primeira mulher negra a ocupar esse cargo. Atualmente, está como Coordenadora da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas/RS), e da Coordenação Nacional desta mesma entidade. Atua no Movimento de Mulheres em Luta (MML).