O ano de 2020 começou quente do ponto de vista da luta de classes. Uma greve nacional de 20 dias da categoria petroleira obrigou o governo e a gestão da empresa a negociar questões nas quais eles pretendiam impor suas visões a categoria de forma autoritária. O sucesso desta mobilização leva esperança a toda classe trabalhadora brasileira, mostrando que com organização e criatividade temos a possibilidade de vitórias.
Destaco aqui um aspecto muito importante nessa batalha que travamos, a solidariedade expressa pelas várias categorias e movimentos. O Sindjus, por exemplo, tirou nota de apoio a greve e se colocou à disposição para ajudar no que fosse necessário, posição pela qual já agradeço em nome da minha categoria. Tivemos notas de apoio, só para citar alguns, da CUT, da CTB, do Cpers, do Sintrajufe, MAB, MST e MPA. Muitos foram a nossa concentração em frente a Refap, em Canoas, para levar uma palavra de apoio. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o Levante da Juventude montaram acampamento em frente à sede da Petrobrás no Rio de Janeiro para apoiar a nossa Comissão de Negociação que ficou 21 dias ocupando uma sala daquele prédio. E assim foi por todo o país, com diversas reuniões, plenárias, encontros e atos de apoio a nossa greve.
Nossa categoria tem consciência de que sem esses atos solidários, nossa luta teria pouca ou nenhuma possibilidade de vitória. Na atual conjuntura que estamos qualquer movimento isolado será facilmente derrotado. Temos um presidente da república abertamente fascista que todo dia ataca instituições e declara a destruição dos seus adversários. Temos governos federal e estadual que tem como objetivos a retirada de direitos e a destruição do estado. Uma política econômica que prega o empobrecimento da população em geral e o enriquecimento dos banqueiros como se fosse a solução dos problemas. Toda rede de proteção social duramente construída desde a redemocratização sendo paulatinamente desmantelada. A “grande” mídia empresarial silenciando sobre lutas coletivas, quando não atacando-as de frente, e vendendo a ilusão do individualismo. E esses são apenas os elementos mais gritantes dessa conjuntura difícil. É por isso que cada ato solidário deve ser exaltado como ato de coragem.
A solidariedade sempre foi um valor básico da espécie humana desde seu surgimento, sem a colaboração não teríamos construído nossa civilização. Vivemos do e no resultado do trabalho dos milhões que vieram antes de nós. Também é alicerce das lutas dos trabalhadores assalariados desde o surgimento do capitalismo. As pessoas esquecem, mas os sindicatos surgiram baseados na solidariedade como organizações de apoio mútuo entre os trabalhadores. Já foi crime ter e fazer parte de um sindicato, isto é, já foi crime ser solidário com teus companheiros explorados. A própria previdência pública se baseou nos “mútuos”, caixinhas onde cada trabalhador deixava parte de sua renda para ajudar aqueles que adoeciam ou se acidentavam. Todos os avanços e diretos conquistados foram frutos da luta solidária da classe trabalhadora ao longo dos últimos séculos. Os capitalistas sabiam e sabem do poder da solidariedade da classe trabalhadora, por isso a combatem sem trégua através da pregação do individualismo, pois é muito importante para eles que nos vejamos como células isoladas. “Dividir para conquistar”, dizia Júlio César enquanto subjugava as tribos gaulesas. Cabe a nós, trabalhadores e trabalhadoras, refutar esse ataque e exercer a cada momento toda a solidariedade possível a luta de nossos companheiros e companheiras.
Jornada de 8 horas, aposentadoria digna, condições de trabalho mais saudáveis, etc, só existem hoje porque em algum momento um trabalhador enxergou no outro um companheiro ou companheira que poderia ajudá-lo na luta pela conquista desses direitos. E esses direitos só são destruídos quando esquecemos enquanto classe do nosso alicerce, a solidariedade.
Dary Beck Filho
Diretor do Sindipetro Rs